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Lendas da aldeia

A filha bruxa

Um casal teve duas filhas e uma delas era bruxa. Um dia, a menina que não era bruxa aproximou-se do pai e disse-lhe:
 − Meu pai, a Maria esta noite foi muito fria para a cama e ultimamente tem andado muito esquisita.
 E o pai respondeu:
 − Será que a minha filha é bruxa?
 Então, desconfiado, pôs-se no dia seguinte a espreitá-la e viu-a a benzer a irmã. O pai disse para si mesmo:
 − Ai, que a minha filha é mesmo bruxa!
 Sem pensar duas vezes, pegou numa aguilhada e foi para trás da porta. Seguidamente, aparece-lhe um porco na sala e ele, com a aguilhada, picou-o. O animal transformou-se logo na filha, que apareceu toda nua e a chorar ao pé dele.
 O pai, ao ver o estado da filha, disse-lhe:
 – Pronto, já passou. Eu quebrei-te o encanto minha rica filha!

O lobisomem que comeu o filho

Um homem, casado e pai de um miúdo, era lobisomem. Um dia foi para o campo trabalhar e levou o filho. Chegou a hora de ir fazer a ronda e disse ao filho que ficasse junto do carro de bois e não tivesse medo.
Dizem que, quando os lobisomens vão na corrida, não fazem mal, mas, se andam à busca, têm que comer sete corações vivos e serve-lhes qualquer animal que encontrarem, mesmo que seja um insecto.
O homem, enquanto andava à busca, encontrou o filho e, sem saber quem era, comeu-o. Os bois apareceram em casa sozinhos, já ele lá estava. Foi então que desconfiou que tivesse feito alguma coisa errada. E começou a sentir-se mal.
A mulher, quando o viu assim, perguntou-lhe:
− Ó homem, porque é que não comes?
− Estou enojado, não me sinto bem.
A mulher olhou bem para ele e notou-lhe uns farrapinhos da roupa do filho nos dentes. Ficou com uma grande paixão e mandou-o olhar-se ao espelho para ver o que tinha nos dentes.
O homem então deu conta que eram farrapos da roupa do filho. As pernas ficaram-lhe a tremer e correu logo a uma pessoa para lhe acabar com o fado.

Os três potes misteriosos

Em Salgueiro há uma mina onde acreditam existirem três potes misteriosos, sendo
um de ouro, um de prata e o outro de peste.
Só se pode lá entrar à meia-noite e a pessoa que lá queira ir, tem de repetir eu entro três vezes, e seguidamente há uma fraga que abre. Assim que a pessoa entra, é levada para o sítio, onde se encontram os três potes.
Quem pegar no pote de ouro fica rico, no de prata fica estável e no de peste morre.

A perna da alma penada

Contam os mais antigos da aldeia de Fornelos, Santa Marta de Penaguião, que uma mulher, tendo saído de casa, altas horas da noite, à procura de lume para acender a lareira, encontrou uma estranha e silenciosa procissão de velas à volta do adro da igreja. Como precisava de lume, foi pedi-lo a um dos que a incorporavam, o qual lhe colocou nas mãos a sua vela acesa.
 A mulher foi para casa, acendeu o lume e, depois de apagar a vela, guardou-a numa caixa debaixo do escano. No dia seguinte, ao abrir a caixa, o que lá encontrou não foi a vela, mas sim uma perna. Nada mais nada menos que a perna de uma pessoa. Muito aflita, foi ter com o padre e contou-lhe o sucedido. O padre, depois de muito meditar, disse-lhe:
 — Vai para casa e guarda essa perna contigo. Dentro de uma semana, esperas pela noite e vais à mesma hora ao adro da igreja entregá-la àquele que vires a coxear na procissão.
 A mulher assim fez. O vulto que coxeava recebeu a perna, em silêncio, e colocou-a no seu lugar. Depois, já sem coxear, voltou para a procissão e desapareceu.
 Diz o povo que nessa procissão andavam as almas penadas da aldeia a cumprir a sua passagem pelo Purgatório.

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